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10 de nov. de 2015

QUANDO VELAS, PÃO E ÁGUA SE TORNAM SÍMBOLOS DE DOR, INDIGNAÇÃO, FÉ E SOLIDARIEDADE

Artigo sobre a tradicional Caminhada da Seca
Fortaleza, 10-11-2015,

Artigo por Geraldo Frencken, teólogo

Fotos Walter Lima
          A participação na 33.ª “Caminhada da Seca” em Senador Pompeu (Ceará) neste domingo último, dia 8 de novembro, deixou um rastro de impressões e sentimentos de difícil caracterização no interior da gente: tristeza, dor, pena, desespero, revolta, raiva, indignação, esperança, solidariedade.
           
            O nome dado a este evento é “Caminhada da Seca”, mas, na realidade, trata-se de algo muito mais amplo e, especialmente, muito mais grave. É a caminhada que leva uma multidão, desde a madrugada, pela estrada do ”Santuário da Seca”, ao “Cemitério das almas da barragem”.
           
Na grande seca de 1932, a fim de evitar que os retirantes da fome, por causa de mais um ano de seca,“invadissem e saqueassem as cidades”, como testemunhou, em 2007, a sobrevivente desta barbárie cearense, Luiza Pereira Lô (93 anos), foram criados os assim chamados “CAMPOS DE CONCENTRACÃO”, sete em total, sendo dois em Fortaleza, além dos outros campos nas cidades de Quixeramobim, Senador Pompeu, Crato, Cariús e Ipú. Dados oficiais relatam que, após apenas um mês de campo, havia 73.918 aprisionados.Fome, cólera, total falta de assistência de toda espécie vitimaram algo em torno de 2.100 crianças, mulheres e homens, que, ao entrar no campo, haviam de submeter-se à corte de cabelo e encobrir seu corpo em panos de saco, a passar fome e sede e sendo obrigado dar duro no trabalho debaixo de um sol da matar. Estas pessoas, uma vez mortas por esse brutal sistema, eram jogadas em valas comuns no local onde hoje se encontra o “Cemitério das almas santas”.

Graças ao Padre Albino Donatti esta história não caiu em total e vergonhoso esquecimento. Foi ele que deu início à memorização destes fatos através da caminhada, que se concretizou, pela primeira vez, em 1982. Lamentavelmente, até hoje não há um livro de história que relata estes fatos, ou seja, há gente interessada em continuar a esconder e, portanto, a falsificar esta parte tão importante da história do povo sofrido do Ceará! Porque será, hein!?

Quando falo em “tristeza, dor, pena”, é por causa desta história que a gente, mesmo hoje, faz imaginar a dor imensa, o sofrimento sem limites, pelos quais aquelas pessoas devem ter passado.
Quando falo em “desespero, revolta, raiva, indignação”, é porque esta história nos obriga a conviver com uma espécie de“ser humano” que foi capaz de criar esta brutalidade com seus pares, e, ainda, porque é revoltante ver como foi criada esta “estratégia” para defender as cidades contra invasões e saques, uma vez que uma pequena parcela da população - a burguesia tomada por um egoísmo insaciável –quis defender a construção de sua cidade com os traços da “belle époque”, a bela época. Mas perguntamos: “bela” para quem?
Quando falo em “fé, esperança e solidariedade”, refiro-me às ofertas colocadas pelo povo no altar na pequena capela no cemitério: pão que faltava àquela gente, água que não lhes foi oferecida, velas como símbolo de calor humano e sinal de vida nova, em sintonia com a Ressurreição do Cristo, também crucificado por um pequeno grupo, uma ridícula minoria de gente, bêbada de tanto egoísmo.
“Esperança e solidariedade”, porque o sonho do Padre Albino de que esta história não caísseem esquecimento, está tomando forma definitiva e boa parte do bom povo de Senador Pompeu carrega esta esperança em si, pisando firme na estrada pedregosa e empoeirada, lutando por vida digna, fazendo a “CAMINHADA AO CAMPO SANTO DO SERTÃO: POR ÁGUA PRÁ BEBER E POR ÁGUA PRÁ VIVER!”

É a solidariedade
para com os 2.500 sacrificados daqueles tempos.

É a esperança teimosa
por um tempo no qual o povo deixará de “escapar vivendo”
e poderá passar a gozar o prazer do direito de viver, de viver mesmo.

Em breve Blog do Walter Lima divulgará a reportagem especial!

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